sábado, 5 de fevereiro de 2011

O LARGO

Em frente da minha casa, no limite da aldeia, existe um largo cheio de amoreiras frondosas. O chão de terra batida , cobre-se em cada primavera, primeiro de folhas, depois de frutos negros ou verdes.Confesso que gosto de pegar no meu escadote de cozinha, num pequeno alguidar e assim que elas, as amoras,começam a amadurecer, subo a rua e misturo-me com os gaiatos que trepam para apanhar as folhas para os bichos da seda. É também ali que escrupulosamente, ao sábado de manhã, pára o homem do peixe.
Ouço a buzina ao longe , ainda ele vem na estrada de Peroguarda e já sei que passados uns 15 minutos ele vai parar no Largo.
É também lá que sentado no banco está muitas vezes o senhor António das Dores. Se há pessoas que têm um nome desajustado com a sua personalidade, é o Srº António que tem sempre uma graça, um provérbio, um dizer antigo e aquele trato afável de quem está de bem com a vida.
- Bom dia !
- Mais à noite logo saberemos se foi bom! - diz sorrindo, desconstruindo a formalidade do cumprimento e deixando espaço para mais conversa.
Hoje, enquanto o peixe não chegava, ficamos os dois ali a palrar.O Sol aquecia o banco e a aldeia despertava entorpecida. Entre as conversas sobre as dores nas costas que nos atormentam, das tengarrinhas, dos catacuzes e das acelgas foi desenhando com o cajado, circulos, na terra batida:
- Há duas coisas que todos temos certa na vida: Nascer e morrer. O resto não se sabe- dizia isto tão sereno que por breves momentos tudo parecia estar no seu lugar.

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