sábado, 4 de janeiro de 2014

Dia Terceiro

Trabalhar com pessoas e palavras é quase sempre uma experiência humana intensa.
Não consigo expressar o fascínio e o desafio que representa trabalhar com tantos e tão diferentes tipos de públicos.  
Hoje terminei a segunda mini - oficina na EP de Beja .
14 almas , gente interessada e interessante, um projeto de promoção de leitura em contexto prisional, desenvolvido por uma técnica da organização onde trabalho e com quem colaboro pontualmente. O contexto não é fácil. Histórias que imagino  serem pesadas,  a julgar pelos textos que se escrevem nas  celas e que pouco a pouco são lidos em voz alta. A minha ideia de partida para estas duas horas , é cruzar micro ficção com aquilo que foi produzido ou melhorado,  por cada participante no isolamento da sua cela. Quero trabalhar na construção de relações intertextuais . Não sei se vou conseguir.
Sobre  a mesa alguns dos autores do meu modesto culto; António Torrado e o seu Conta Gotas, Millôr Fernandes e o seu Pif Paf, Afonso Cruz e o seu " Livro do Ano " , Álvaro Magalhães e o seu Brincador., Eduardo Galeano e a sua " Escola do Mundo ao Contrário " ... Para preparar a sessão o trabalho imprescindível da Margarida Fonseca Santos " Escrita " . Ontem fizemos algumas das brincadeiras de escrita com o nome de cada um,  a partir de imagens  e foram lançados alguns desafios. O grupo esteve bem, participou,  mas não floriu. Hoje sim , foi em cheio. Quase todos trouxeram as suas escritas , ou escritas alheias e durante duas horas escutámos, refletimos, partilhamos,  tantas formas diferentes de falar da vida, dos afetos e das emoções . Qual será o significado de estarmos ali a escrever e a ler ? Para que serve isto? Respostas simples e seguras: "dizer o que sinto ou penso, expressar a minha raiva, organizar a minha história". É impressionante o que acontece quando as pessoas ganham consciência de si:
- Você gosta mesmo disto ? - perguntam-me a certa altura ... acho que se referia aos livros.
- Sim, mas aquilo que eu gosto mais , são mesmo as pessoas!
Sorrimos todos e acho nos entendemos. 

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