domingo, 5 de janeiro de 2014

Hoje lembrei-me do Henrique ...


O Henrique - hoje um belíssimo poeta – era mais novo do que eu e o melhor do grupo a fazer relatos. Os nossos pais andavam sempre juntos: agora um petisco onde se combinava uma sardinhada nos pinheiros. Agora a sardinhada onde se combinava uma pescaria. Agora uma pescaria onde se combinava um petisco … Era um tempo, com imenso tempo, em Lagos no principio do anos 70. 
O Henrique é um desses amigos que vem do tempo em que as famílias iam passar o dia na pesca: Os homens saiam com as canas e camaroeiros e a minha mãe e as outras mulheres, ficavam junto da carrinha a preparar "os comeres" . Do tempo em que se dormia a sesta dentro da carrinha e os miúdos transgrediam contando anedotas do Bocage. Lembro-me daquela vez em que os homens se atrasaram na pesca , as velhacas - assim lhes chamava a minha avó - terem comido tudo o que havia para comer e bebido tudo o que havia para beber- medronho inclusive – a ponto de lhes terem servido cascas de caracóis de almoço.  Na carrinha o Henrique fazia de locutor de rádio , enquanto relatava o jogo Sporting Benfica de 74 , com Eusébio, Damas e muitos outros .
Há muito tempo que não estou com o Henrique. Fez-se um bonito Homem. Uma Pessoa bonita. Encontramo-nos pouco hoje, se calha, e quase sempre de corrida. Mas sempre que nos vemos há um brilho maduro e feliz , uma chispa, um olhar profundo de quem se conhece à quarenta e cinco anos, desde o tempo dos golos do Eusébio. Parece que o estou a ouvir:
- E Eusébio recebe isolado. E… avança para a área , demolidor e…. aguenta a carga e ….. GOOOOOLO do Pantera Negra.
Ninguém o fazia melhor que o Pantera.
Ninguém o fazia melhor que o Henrique.
Temos de combinar um café na Britaica, ou na Ritinha! Tenho de lhe levar de presente  este texto que descobri do O'Neill : 

«Uma coisa me consola, Eusébio. É que não fui eu quem cobriu Você de adjectivos, de apodos, de cognomes mais ou menos imaginosos. Não fui eu quem disse que Você era a pantera, o príncipe, o bota de oiro, o relâmpago negro, o coice para a frente, o astropata. Também não fui eu quem disse que o seu nome era Eusébio. Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e vire, vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças!»

3 comentários:

  1. Às vezes até ficava rouco :)
    Obrigado por me lembrares desses tempos.
    A amizade ainda marca golos, sempre.
    Um abraço Cristina

    Henrique

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  2. Poeta !...Não tinha visto ainda o teu comentário. Tenho andado arredia destes sítios de " vícios e solidão" .
    Um abraço amigo... temos de tomar o tal café.

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