quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como se cozinha um povo de mansos ...

Se queremos um povo de mansos, qualifiquemos as massas por decreto, formatando-as para marchar.
Criemos uma Escola sem chama, de professores esgotados pelo sistema e famílias escravas, vivendo para trabalhar.
Queimemos o País lentamente , com discrição.
Coloquemos nas direcções gerais, até mesmo dessas que tratam da leitura, alguém que se controle, um tonto, um amigo, mesmo que seja incompetente e depois, para dar um certo ar de seriedade e de contenção, hipotequemos anos de trabalho e investimento e que se extinga essa direcção.
Acabemos com essa coisa perigosa que são as bibliotecas, reduzindo-as à sua insignificância, suspendendo as aquisições de livros , reduzindo as despesas supérfluas como as revistas e os jornais. Que se coloquem nos lugares chave, os da nossa confiança, os boys do sistema, que se controle todas as fontes de informação, para que todas as opiniões sejam iguais.
Que se meta a vida cultural das cidades, do País, no calabouço e junto a ela o direito ao tempo, a poesia, e quem a diz, ou pinta, ou escreve, quem a pensa e aproveitem para limitar também a capacidade de cada sujeito de expressar afectos, emoções e conceitos.
Que as gentes passem os dias contando patacos e se preocupem exclusivamente com sobrevivência, que sejam o que têm e vivam sempre em competição e que se criem sistemas de avaliação de desempenho encostadas às progressões das carreiras, que se coloquem quotas para acordar a besta adormecida que há em cada sujeito e assim explorar o que de pior tem a natureza humana: o individualismo, a subserviência e a competição desenfreada.
Que se ataque em todas as frentes para que acordem todos os dias de mãos cheias de vento, a almas cheias de nada.
E se tudo isto não chegar que se renegue Abril e todos os seu valores, o estado Social e todos os seus horrores, os direitos sociais de quem trabalha e que este seja o único discurso que se escuta… o nosso eco … e fiquemos serenos, firmes a aguardar, os custos sociais do que aqui se está a cozinhar!

6 comentários:

  1. Como sempre, muito bom este post. Parabéns.

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  2. A cozinhar! Infelizmente a realidade para a maioria de nós portugueses desde sempre... mísero país!

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  3. Toca a ser o que não se tem
    Ver a olhar a quem
    Agir como antes ninguém

    Transtornar o cozinhado
    Salpicar o arrumado
    Inquietantes e mutantes
    Nunca mais como foi dantes

    No pasarán

    Vale?

    Abraço grande oh taquelina

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  4. Assustador... o cheiro que vai saindo dessa panela...

    Muito bem (d)escrito.

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  5. Passei por aqui por acaso. Gostei de ler. Só não concordo com essa raiva contra os sistemas de avaliação. Só quantificando os problemas é que os podemos resolver. E também sou totalmente a favor da competição. As regras e os árbitros é que têm que lá estar para garantir jogo limpo e que vença o melhor. Porque precisamos que os melhores vençam. Já basta de mediocridade.

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  6. Caro Fernando seja bem vindo e aceito o seu comentário. Terei talvez apenas, como desculpa para essa raiva, o facto de ter tido nos dias do post uma formação sobre o assunto e na relação entre o princípio e a sua aplicação, constatar como na prática as organizações subvertem as regras e os árbitros se regem por principios pouco transparente. O problema não é a avaliação - fundamental, concordo - o problema é como ela se pode subverter, com que nível de isenção ela se dá e a quem serve. Obrigada pelo comentário.

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