segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

UMA MULHER ; UM LIVRO ; UM LUGAR

Regressar é o último momento das viagens. Contar dos trilhos percorridos e as histórias das pessoas que agora nos habitam. Regresso hoje à minha condição de funcionária pública, para trazer novas da viagem...

Existe um lugar pertinho daqui onde vive a mulher do LIVRO. É uma mulher madura que recebeu O LIVRO do seu pai, que também o tinha recebido de seu pai, que por sua vez também o tinha recebido…até à origem do livro, da autoria. Esta perde-se no escuro dos Natais de todos os tempos.

Direi o nome do Lugar mas, da Mulher, apenas revelareique sabe O LIVRO de cor e o entoa na cadência certa, sempre que entra a Loa.

Contarei o que ela me contou: que o auto se fazia nas vésperas de Natal e durava uma noite inteira. Fogueiras em roda e o povo batendo o pé e o queixo, assistindo ao Presépio. Havia quem tocasse gaita, quem tratasse dos cenários e figurinos
feitos de saca…todos sabiam que graças ao auto haveria ceia de Natal. Os textos extensos eram aprendidos por mais de uma dezena de homens na integra. Ditos de memória, sem engano por quem tantas vezes não conhecia uma letra tamanho de uma casa. Suponho que desconheceriam muitas das palavras que diziam, mas sabiam o que contava a história e como ela os ajudava a acreditar!

Pois esse auto de Natal – ainda resiste. Persiste.
Aqui no Alentejo, pertinho de Beja.
Numa pequena aldeia que vai deixar de ser freguesia.
Na Trindade, no dia de Reis.
Há seis anos que não se fazia.

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