segunda-feira, 21 de junho de 2010

Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado...

O meu Pais está cada vez mais pobre. Economicamente mais pobre.Ideologicamente mais pobre. Éticamente mais pobre . A pretexto da crise reduz-se a actividade cultural das cidades, asfixia-se o movimento associativo, tomam-se medidas economicistas em sectores fundamentais - educação , saude - penaliza-se quem vive do seu trabalho. Gere-se o bem público numa lógica inclassificável, criando a ideia que são os funcionários públicos a razão desta crise . Na semana passada os midia divulgavam: " O número de portugueses com uma fortuna pessoal superior a um milhão de dólares (cerca de 814 mil euros) ascendeu a 11 mil no ano passado, mais 600 do que em 2008, segundo dados do estudo «World Wealth Report»,(...) Segundo esta mesma fonte, esta realidade estende-se a todo o mundo ;" os investimentos em «prazer» desses milionários não diminuíram. «Desde o fim de 2009, o mercado das colecções de produtos de luxo como arte, vinhos e carros voltou a crescer, com concorridos leilões na Europa e na América do Norte " OS RICOS ESTÃO CADA VEZ MAIS RICOS E OS POBRES CADA VEZ MAIS POBRES e lembro-me do poeta... ... até parece que foi escrito hoje.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Senta-te aqui...

Senta-te aqui ao pé de mim e ...
Vamos finalmente tratar-nos por tu
Vamos falar dos sonhos, dos teus e dos meus.
Vamos falar de livros , das palavras e dos homens.
Vamos rir até nos doerem as faces e chorar como se não houvesse amanhã.
Vamos partilhar o que acabamos de escrever
Vamos discutir tão alto, que o mundo pare
Vamos perdoar-nos
Vamos olhar o futuro e viver em desassossego
Vamos cantar mesmo que seja desafinado e assobiar hesitantes o Comandante Che Guevara
Vamos falar da cidade de hoje,dos poderes políticos e antever
Vamos assistir a um jogo do mundial
Vamos fazer sopas no molho e falar de boca cheia
Vamos falar de mulheres ... tu e as mulheres!
Vamos falar dos filhos, dos meus e dos teus e da descoberta que é educar
Vamos falar mal de alguém ... só um pouquinho hoje
Vamos fazer planos, muitos planos e projectos e ...
Vamos ser memória , tempo e celebrar...Vamos ser tragicamente humanos e viver!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

mais um LOGRO na educação!

A Ministra da Educação anunciou medidas extraordinárias que permitem que, alunos de 8º ano, com mais de 15 anos transitem para o 10ºano. Com exame é claro! - e declara: - não é uma medida facilitista. EXTRAORDINÁRIO!
Não é facilitista nem é nada ... é um LOGRO!
... porque é injusta para com os alunos que cumprem, investem, se aplicam!
... porque significa mais uma perda de legitimidade dos docentes!
... porque torna mais difícil justificar que o trabalho e o esforço compensam!
... porque prostitui o significado do que deve ser a ESCOLA !
... porque é demagógica e tenta iludir o que realmente é preciso fazer para conduzir estes alunos ao sucesso !
Abro os olhos . Fico atenta e canto... !
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prêmio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
conosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
Natália Correia - Queixa das almas jovens censuradas

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Carros de luxo no Parlamento

Nem quis acreditar...

Sempre fui uma mulher de esquerda.
Sempre acreditei na nobreza da política.
Sempre acreditei no trabalho que fazia.
Sempre defendi o poder autárquico democrático pela importância da sua proximidade com as populações.

Sempre acreditei que um dos maiores ganhos de Abril foi a representatividade parlamentar e que os deputados eram o garante da vida democrática.
Sempre acreditei nos valores de Abril !
… mas hoje … quando vejo a incoerência de quem propagandeia a crise nacional nos media e nos afronta com notícias como a que refere o milhão de euros gastos na aquisição de carros para os nossos representantes, tenho dúvidas na democracia que sonhei , no País de Abril que sempre me norteou os dias.

Descobri no outro dia , consultando o Diário da Republica, que a 10 de Fevereiro deste ano, os deputados que todos elegemos,do Cds-PP ao Bloco de Esquerda, aprovaram o orçamento da Assembleia da República, no valor de 191 milhões e quinhentos mil euros.
Sinto-me insultada!

Conheço a crise - quem trabalha no interior e entra a meio da semana numa aldeia, às 3 da tarde e vê dezenas de jovens sentados nas soleiras das portas de cerveja na mão, quem trabalha com crianças cada vez mais pobres , mais desprotegidas, mais condicionadas na voz, no gesto e no olhar; quem conhece tantos velhos a viver da esmola dos vizinhos, abandonados pelos poderes públicos , tentando fazer render uma reforma miserável - conhece bem a crise e tem dúvidas, muitas dúvidas sobre a natureza humana e a nobreza da política.Conheço a crise dentro da minha casa, onde cada vez é mais difícil fazer frente às despesas de todos os dias e justificar aos filhos porque é importante trabalhar dignamente e servir a causa pública.

Trabalho numa autarquia em crise. Escutei durante a última campanha eleitoral ecos que falavam da centralidade de minha cidade, falavam de mudança, da afirmação da cidade no país e hoje vejo amputarem-se os orçamentos dos equipamentos culturais da cidade, usando o argumento da crise para atingir de morte tudo aquilo que culturalmente a prestigia a nível nacional e internacional. Vejo executivos Municipais a definir agora medidas de austeridade, depois de terem votado para si cartões de crédito de 900€ logo aumentados para 1200€ mensais ( e até nem é pelo valor, mas por aquilo que simbolicamente isso significa) vejo presidentes invisíveis e figuras de segundo plano, déspotas, a gerirem o bem público como se fosse uma mercearia.

Olho à minha volta e vejo uma rede de leitura pública em estertor, com os bibliotecários colocados na prateleira e bibliotecas públicas a serem geridas por empresas, ou por sujeitos sem formação específica, mas que têm a confiança política dos executivos municipais. Vejo o património das bibliotecas ( o seu acervo ) a morrer de desactualização. Bibliotecas que desde Setembro de 2009 não compram um livro infantil. Vejo equipas reduzidas ao mínimo dos mínimos, desmotivadas, desgastadas por terem sempre que fazer o melhor com cada vez menos, desgastadas pela incapacidade de responder aos seus leitores, de intervirem nas comunidades que devem servir.

Olho para a minha cidade e vejo-a deserta, dividida entre o discurso revanchista e reacionário de quem se identifica com o poder vigente e o discurso demagógico e envergonhado de quem já foi poder. Entre um e outro discurso fica ,a cidade deserta, o mundo rural morto, o movimento associativo manietado,a incapacidade de pensar a cidade para além das cores do "clube" de pertença.

Olho para o meu país e vejo a corrupção, os interesses partidários, os lobys,as medidas penalizantes sobre quem vive exclusivamente do seu trabalho, uma Escola sem perspectiva, um sistema de saúde depauperado, a desertificação do interior, a solidão dos meus velhos, a falta de esperança das minhas crianças.

Vejo-me a mim, cidadã, com 23 anos de funcionária pública, a desacreditar e quase ... quase... a dar-me por vencida.