segunda-feira, 21 de junho de 2010
Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Senta-te aqui...
Vamos finalmente tratar-nos por tu
Vamos falar dos sonhos, dos teus e dos meus.
Vamos falar de livros , das palavras e dos homens.
Vamos rir até nos doerem as faces e chorar como se não houvesse amanhã.
Vamos partilhar o que acabamos de escrever
Vamos discutir tão alto, que o mundo pare
Vamos perdoar-nos
Vamos olhar o futuro e viver em desassossego
Vamos cantar mesmo que seja desafinado e assobiar hesitantes o Comandante Che Guevara
Vamos falar da cidade de hoje,dos poderes políticos e antever
Vamos assistir a um jogo do mundial
Vamos fazer sopas no molho e falar de boca cheia
Vamos falar de mulheres ... tu e as mulheres!
Vamos falar dos filhos, dos meus e dos teus e da descoberta que é educar
Vamos falar mal de alguém ... só um pouquinho hoje
Vamos fazer planos, muitos planos e projectos e ...
Vamos ser memória , tempo e celebrar...Vamos ser tragicamente humanos e viver!
segunda-feira, 7 de junho de 2010
mais um LOGRO na educação!
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prêmio de ser assim
sem pecado e sem inocência
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
conosco quando estamos sós
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Nem quis acreditar...
Sempre acreditei na nobreza da política.
Sempre acreditei no trabalho que fazia.
Sempre defendi o poder autárquico democrático pela importância da sua proximidade com as populações.
Sempre acreditei que um dos maiores ganhos de Abril foi a representatividade parlamentar e que os deputados eram o garante da vida democrática.
Sempre acreditei nos valores de Abril !
… mas hoje … quando vejo a incoerência de quem propagandeia a crise nacional nos media e nos afronta com notícias como a que refere o milhão de euros gastos na aquisição de carros para os nossos representantes, tenho dúvidas na democracia que sonhei , no País de Abril que sempre me norteou os dias.
Descobri no outro dia , consultando o Diário da Republica, que a 10 de Fevereiro deste ano, os deputados que todos elegemos,do Cds-PP ao Bloco de Esquerda, aprovaram o orçamento da Assembleia da República, no valor de 191 milhões e quinhentos mil euros.
Sinto-me insultada!
Conheço a crise - quem trabalha no interior e entra a meio da semana numa aldeia, às 3 da tarde e vê dezenas de jovens sentados nas soleiras das portas de cerveja na mão, quem trabalha com crianças cada vez mais pobres , mais desprotegidas, mais condicionadas na voz, no gesto e no olhar; quem conhece tantos velhos a viver da esmola dos vizinhos, abandonados pelos poderes públicos , tentando fazer render uma reforma miserável - conhece bem a crise e tem dúvidas, muitas dúvidas sobre a natureza humana e a nobreza da política.Conheço a crise dentro da minha casa, onde cada vez é mais difícil fazer frente às despesas de todos os dias e justificar aos filhos porque é importante trabalhar dignamente e servir a causa pública.
Trabalho numa autarquia em crise. Escutei durante a última campanha eleitoral ecos que falavam da centralidade de minha cidade, falavam de mudança, da afirmação da cidade no país e hoje vejo amputarem-se os orçamentos dos equipamentos culturais da cidade, usando o argumento da crise para atingir de morte tudo aquilo que culturalmente a prestigia a nível nacional e internacional. Vejo executivos Municipais a definir agora medidas de austeridade, depois de terem votado para si cartões de crédito de 900€ logo aumentados para 1200€ mensais ( e até nem é pelo valor, mas por aquilo que simbolicamente isso significa) vejo presidentes invisíveis e figuras de segundo plano, déspotas, a gerirem o bem público como se fosse uma mercearia.
Olho à minha volta e vejo uma rede de leitura pública em estertor, com os bibliotecários colocados na prateleira e bibliotecas públicas a serem geridas por empresas, ou por sujeitos sem formação específica, mas que têm a confiança política dos executivos municipais. Vejo o património das bibliotecas ( o seu acervo ) a morrer de desactualização. Bibliotecas que desde Setembro de 2009 não compram um livro infantil. Vejo equipas reduzidas ao mínimo dos mínimos, desmotivadas, desgastadas por terem sempre que fazer o melhor com cada vez menos, desgastadas pela incapacidade de responder aos seus leitores, de intervirem nas comunidades que devem servir.
Olho para a minha cidade e vejo-a deserta, dividida entre o discurso revanchista e reacionário de quem se identifica com o poder vigente e o discurso demagógico e envergonhado de quem já foi poder. Entre um e outro discurso fica ,a cidade deserta, o mundo rural morto, o movimento associativo manietado,a incapacidade de pensar a cidade para além das cores do "clube" de pertença.
Olho para o meu país e vejo a corrupção, os interesses partidários, os lobys,as medidas penalizantes sobre quem vive exclusivamente do seu trabalho, uma Escola sem perspectiva, um sistema de saúde depauperado, a desertificação do interior, a solidão dos meus velhos, a falta de esperança das minhas crianças.
Vejo-me a mim, cidadã, com 23 anos de funcionária pública, a desacreditar e quase ... quase... a dar-me por vencida.