quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Um Beijo Grande - disse do hospital a tia Sol

 - Este é o Tm da Julia . Um Beijo Grande - disse do hospital a tia Sol na quinta- feira , numa breve mensagem e partiu pela madrugada de domingo. Despedirmo-nos assim da vida é uma surpresa . mas também uma graça. Só mesmo ela, para se despedir assim! de repente.

A tia Sol está presente na minha vida desde  sempre e a sua chegada era sempre celebrada. Naquele tempo a tia Sol tinha um carro divertido e fumava. Lembro-me de ficar presa nos gestos da tia Sol a apanhar o isqueiro, as unhas pintadas, as mãos com anéis a segurar o cigarro, no fumo que saía pela boca escurecida.  
Vivi na casa da Tia Sol em Silves aí pelos 10 anos e mais tarde , asilava umas dormidas no Festival da Paz, no festival da Cerveja, ou para ficar em Portimão à noite. As Casas da Tia Sol sempre foram um mistério. A de Silves, com um corredor que a percorria de lado a lado,  uma saleta onde eu dormi tantas vezes, uma luz que tenho gravada nas retinas, a de Portimão com aquele caos absolutamente organizado, povoado de recantos de memórias. A tia Sol sabia falar grosso ou dar colo. Fazia malhas como uma doida e nunca chorava nos funerais- não sei como ela conseguia, mas começo a compreender.

Foi minha professora. Era tesa e ensinava bem. Tinha um olhar sobre o que deve ser escola e a relação entre professor aluno que a fazem,  ainda hoje pertencer à elite de professores que guardo na memória. Tinha um amor profundo pela minha mãe e partilharam uma vida profissional e pessoal.
Nos últimos anos, quase todos os domingos, chegava com um folar delicioso e um ramo de flores para a minha mãe . Vinha emprestar ouvidos e partilhar dores.vinha conversar. Quando estavam as duas e o meu pai sossegava, sentavam-se falavam de cor, almoçando e aviando uma litrada de tinto da Vidigueira, outras vezes uma "Champanhoca". A tia Sol e a minha mãe sempre foram dois "bons" copos. Nunca lhe perguntei se era feliz, mas acho que sim, apesar das suas silenciosas dores. . O riso e o corpo andavam a dar sinais . Nos últimos meses, eram mais raras as gargalhas inconfundíveis da tia Sol. A vontade de viver expressava-se na forma solidária como se colocava ao serviço das causas em que acreditava. Era mandona! Quando coincidíamos no dia e nos encontrava-mos em Lagos  conversámos: contava dos seus, escutava dos nossos, faziam-se as grandes conversas cúmplices, com ela a lavar a loiça na cozinha- o cigarro acesso no cinzeiro-  e a camisa toda molhada encharcada. Lavar a loiça era uma das funções da tia Sol. Nunca foi visita.
Foi a primeira mulher da casa a mandar um homem da casa levar na bilha! História célebre que se contará sempre que se fala da tia Sol.

Eram célebres as "empenas de crista" que havia entre a tia Sol e o meu pai nos almoços de domingo. O meu pai sempre foi um homem de hábitos . Bons e maus . Sentava-se à mesa depois de o chamarem 400 vezes - o que irritava toda em gente em geral e a tia Sol em particular - e depois de se instalar, ia pedindo de forma avulsa os ingredientes, os objectos que lhe faziam falta. era sempre o mesmo. ao almoço e ao jantar : agora mais um copo, depois  o sal, o limão , agora o galheteiro e um prato para a saladinha , logo depois o picante, a faca que estava manchada, a carne que entretanto esfriou, o copo que tinha uma dedada – e enquanto o pai na cabeceira dizia ou por vezes gritava para a Cozinha : Oh Maria Joséééé! ,!oh Cristinaaa!, Oh Riiiiita! Oh Biiiiia !, Oh Caroliiiiiina! –  a pequenada e o mulherio fazia de cada refeição uma permanente cadeia de montagem ao serviço destes santos hábitos. Aí pelo terceiro pedido ,a tia Sol começava a encher… escutavam-se pequenas picardias,  ao longo da refeição o tom ia aumentando e  quando o meu pai,  depois de mandar aquecer a carne duas vezes, rematava com a useira frase  : -  Está bom p’ra dar ó pórque! ( deve ler-se à algarvia ) – aí … era o fim do mundo!
Aquela frase tinha o dom de acender a veia revolucionária da tia Sol: - Oh ! Eugénio Porra! Francamente… pá! Que conversa de mer… . Então se levantasses o c…. e fosses buscar o que precisas à cozinha ?! Oh Pá ! Pede tudo de um vez pá ! - ficava destemperada e logo ela que falava um tão bom português.
O meu pai provocava : - Oh Sol não te irrites , que ficas feia! - talvez não fossem exatamente estas as palavras , mas a rotina era mais ou menos esta, não havia surpresas!

Até ao dia em que o Fernando ousou imitar o Sogro e teceu um comentário gozão e provocador, ligeiramente depreciativo em relação a um almoço, em relação a "boa" embocadura das senhoras da casa ( leia-se a tia Sol e a Minha Mãe ) , um “ Pudim de espargos “ , não sei precisar:
- Zézinha, na qualidade de teu genro, lamento que tenha vindo a notar alguma perca de diversidade no repasto e até de alguma qualidade no atendimento, onde é que já se viu não colocarem as bebidas no frio . E a falta do salmonetinho? ... Já se comeu melhor nesta casa! . terá sido o final do comentário , imagino ... Não recordo em detalhe a natureza do comentário mas sei que  ele acendeu a veia de revolucionária da tia Sol. Tenho a certeza que escutei a célebre frase :
- Oh Pá ! Fernando, vai levar na bilha! – O Fernando não foi. Mas nunca mais se recompôs!

Este fim de semana não escutámos a gargalhada com o ligeiro ronquinho  a terminar , aquele que fazia quando dobrava o riso , faltaram as flores. mas ficou a história. Esta, pequena, e muitas outras todas as que contamos para chamar ao presente aqueles que tendo partido,  estarão sempre e incondicionalmente presentes nas nossas vidas?  

Um Beijo Grande !

 

domingo, 11 de maio de 2014

Falar de Abril em Maio


“ Ser solidário assim para além da vida /Por dentro da distância percorrida / Fazer de cada perda uma raiz /e improvavelmente ser feliz(…)”

 Existirão muitas maneiras de falar de Abril. Tantas como as palavras que o contam. Eu escolho, por agora, as palavras dos poetas. Ninguém melhor do que os poetas para falar dessa “ (…) madrugada tão esperada, esse dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio e  livres habitamos a substância do tempo”- um poema maior de Sophia de Mello Breyner Andresen que desta forma evocou a maior conquista de Abril: a liberdade.

Ao olhar para a distância percorrida, as nossas primeiras palavras são de celebração e homenagem aos homens e mulheres que antes de Abril estiveram onde era mais difícil estar e lutaram e lutam , com a força das suas convicções, pela construção de um País mais justo e mais livre, mais solidário. Foram muitos os que, de muitos quadrantes, de muitos credos, de muitas ideologias, fizeram a história desta revolução. Uma história contada a muitas mãos , 40 anos de história onde todos nós fomos e somos co-autores. Talvez por isso e cada vez mais Abril seja uma data sem donos.

Não poderia senão trazer-vos as palavras dos poetas para falar de Abril.Sou uma mulher que tem uma convicção profunda na importância das palavras, da leitura e da cultura como um instrumento poderoso na transformação dos sujeitos. Quem não tem palavras para expressar o que pensa, o que sabe , o que diz, está condicionado nas suas escolhas, limitado no exercício dos seus direitos de cidadania. E para muitos, ainda hoje, Abril tarda em cumprir-se, pleno.

Habito uma casa de livros. nela está guardada a História do Mundo e do Pensamento e esta conta-nos como os livros e a liberdade sempre se relacionaram, por isso “(…) os livros se queimam, se censuram em épocas de ditadura – dura de ouvido, dura de cabeça, dura de duração e se promove a educação e a literacia em tempos de dita – livre, tempos de livro-pensadores” ( Maria Teresa Meireles).

Regresso às palavras de José Mário Branco  e a um seu texto de 1979 – tão actual que parece ter sido escrito hoje – um texto que nos desassossega e interpela:

 (…)podes ir para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, Podes estar descansado que estão todos a tratar de ti , tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! (…) Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acha normal haver mãos desempregadas.

Dou voz às palavras do poeta porque temo
que as experiências laboratoriais que são feitas em economias como a nossa, apenas tenham como resultado alimentar um ciclo  infernal  de austeridade de empobrecimento, de controle social, e de perda de autonomia e soberania e que a estas de associe a perda direitos fundamentais: Educação, Saúde, Segurança Social, Cultura – consagrados naquela que é a carta dos direitos de cada cidadão português: a sua constituição.

temo as consequências das repetidas instrumentalizações do estado ao serviço dos grandes interesses privados, às vezes partidários, às vezes até dos pequenos e mesquinhos interesses pessoais.

porque só nas palavras dos poetas encontro o abraço que me abriga do autoritarismo do poder, da inflexibilidade do eu quero, posso e mando, da incapacidade de escutar, de infletir rumos, hipotecando projectos estruturantes importantes para o desenvolvimento dos territórios, para a qualidade de vida das populações.

Trago hoje a esta sala a palavra do poetas, porque nelas mora esse Abril primeiro, inocente e limpo, que nos convoca a resistir e que nos anima a permanentemente a reinventar : Ai, Zé Mário (…) E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partir para ganhar, partir para acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar... Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia?  

Acho que todos diremos que sim, que valeu a pena, que foi longa a jornada e mais longa ainda a que precisamos empreender para chegar ao lugar onde se joga a possibilidade de nos podermos construir como homens e mulheres inteiros. Obrigada.

Cristina Taquelim/representante do Movimento de cidadãos por Beja com Todos /25 de Abril / 2014.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

quando ele assobiava nos corredores...

  
 Tenho saudades de ouvir aquele assobio do Mestre pelos corredores , alternando , o trautear da música do Chico - ou melhor  o "traulitar" da letra : (...) "Aqui em Beja tão jogando futebol/ uns dias chove, noutros dias bate o sol (...) - com o assobio desafinado. Quase sempre terminava repetindo até á exaustão (..) mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta (...)

 
Nada melhor que um samba para começar o dia , para contar os dias. "(...) Muita careta pra engolir a transação/ Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro/ E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro/  Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho/ E a gente vai se amando que, também, sem um carinho/  Ninguém segura esse rojão. " ( Excerto amputado)
 
Sei que não existe nada maior do que o TEMPO... até no amansar da dor. Fica uma saudade do cão das coisas vividas, das cumplicidades, das risadas, das partidas , das bocas foleiras. das manias . DAS CONVERSAS ... e a dor vai passando devagar . Até parece que  ainda foi ontem que estivemos juntos.
Deixo um samba e um Abraço para ele e para os seus ,  
Cá de casa : meu , do Fernando e das crianças.
A Rita aproveita pra também mandar lembranças.
De todo o pessoal .
Adeus.

sábado, 25 de janeiro de 2014

A autora deste blog ENLOUQUECEU !


O Ultimo Imposto
- Aqui tens a pelle ó tyrrano e acabemos com isto .
O osso cá fica para a espadeirada municipal.
Rafael Bordalo Pinheiro
A funcionária pública autora deste blog , vem agradecer  ao governo de Portugal, o empenho em  tirar "a crise do país "- que , como todos sabem se encontra em franca retoma - e mostrar aos altos pensadores da administração,   como se sente reconhecida pelos seus 23 anos de trabalho, de serviço público, expressos no valor do recibo de vencimento do mês de Janeiro.

Sublinhando a natureza estimulante do corte salarial , a funcionária pública autora deste blog, declara-se mais do que nunca empenhada em contribuir para o aumento da produtividade  nacional  e aplaude as soluções praticas - sempre mais do mesmo- que se repetem na administração, sempre postas ao serviço da alta finança.

A funcionária pública e autora deste blog tem esperança que o governo não fique por aqui e anseia que chegue Março para contribuir de novo para o esforço nacional ( ADSE) e servir o estado, descontando mais algum e garante que nas próximas eleições dará o seu voto  a quem tão bem nos governa(ou) e continuará apostar com confiança na alternância democrática: Agora Tu | Agora Eu!

A funcionária pública , autora deste blogue exorta todos os seus pares a mostrar o seu reconhecimento pelas medidas agora tomadas e a enviar ao governo e às troikas que o pariram, vivas felicitações e esta imagem do Grande Bordalo! Ou outra ... a do manguito ...!

 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Hoje lembrei-me do Henrique ...


O Henrique - hoje um belíssimo poeta – era mais novo do que eu e o melhor do grupo a fazer relatos. Os nossos pais andavam sempre juntos: agora um petisco onde se combinava uma sardinhada nos pinheiros. Agora a sardinhada onde se combinava uma pescaria. Agora uma pescaria onde se combinava um petisco … Era um tempo, com imenso tempo, em Lagos no principio do anos 70. 
O Henrique é um desses amigos que vem do tempo em que as famílias iam passar o dia na pesca: Os homens saiam com as canas e camaroeiros e a minha mãe e as outras mulheres, ficavam junto da carrinha a preparar "os comeres" . Do tempo em que se dormia a sesta dentro da carrinha e os miúdos transgrediam contando anedotas do Bocage. Lembro-me daquela vez em que os homens se atrasaram na pesca , as velhacas - assim lhes chamava a minha avó - terem comido tudo o que havia para comer e bebido tudo o que havia para beber- medronho inclusive – a ponto de lhes terem servido cascas de caracóis de almoço.  Na carrinha o Henrique fazia de locutor de rádio , enquanto relatava o jogo Sporting Benfica de 74 , com Eusébio, Damas e muitos outros .
Há muito tempo que não estou com o Henrique. Fez-se um bonito Homem. Uma Pessoa bonita. Encontramo-nos pouco hoje, se calha, e quase sempre de corrida. Mas sempre que nos vemos há um brilho maduro e feliz , uma chispa, um olhar profundo de quem se conhece à quarenta e cinco anos, desde o tempo dos golos do Eusébio. Parece que o estou a ouvir:
- E Eusébio recebe isolado. E… avança para a área , demolidor e…. aguenta a carga e ….. GOOOOOLO do Pantera Negra.
Ninguém o fazia melhor que o Pantera.
Ninguém o fazia melhor que o Henrique.
Temos de combinar um café na Britaica, ou na Ritinha! Tenho de lhe levar de presente  este texto que descobri do O'Neill : 

«Uma coisa me consola, Eusébio. É que não fui eu quem cobriu Você de adjectivos, de apodos, de cognomes mais ou menos imaginosos. Não fui eu quem disse que Você era a pantera, o príncipe, o bota de oiro, o relâmpago negro, o coice para a frente, o astropata. Também não fui eu quem disse que o seu nome era Eusébio. Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e vire, vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças!»

sábado, 4 de janeiro de 2014

Dia Terceiro

Trabalhar com pessoas e palavras é quase sempre uma experiência humana intensa.
Não consigo expressar o fascínio e o desafio que representa trabalhar com tantos e tão diferentes tipos de públicos.  
Hoje terminei a segunda mini - oficina na EP de Beja .
14 almas , gente interessada e interessante, um projeto de promoção de leitura em contexto prisional, desenvolvido por uma técnica da organização onde trabalho e com quem colaboro pontualmente. O contexto não é fácil. Histórias que imagino  serem pesadas,  a julgar pelos textos que se escrevem nas  celas e que pouco a pouco são lidos em voz alta. A minha ideia de partida para estas duas horas , é cruzar micro ficção com aquilo que foi produzido ou melhorado,  por cada participante no isolamento da sua cela. Quero trabalhar na construção de relações intertextuais . Não sei se vou conseguir.
Sobre  a mesa alguns dos autores do meu modesto culto; António Torrado e o seu Conta Gotas, Millôr Fernandes e o seu Pif Paf, Afonso Cruz e o seu " Livro do Ano " , Álvaro Magalhães e o seu Brincador., Eduardo Galeano e a sua " Escola do Mundo ao Contrário " ... Para preparar a sessão o trabalho imprescindível da Margarida Fonseca Santos " Escrita " . Ontem fizemos algumas das brincadeiras de escrita com o nome de cada um,  a partir de imagens  e foram lançados alguns desafios. O grupo esteve bem, participou,  mas não floriu. Hoje sim , foi em cheio. Quase todos trouxeram as suas escritas , ou escritas alheias e durante duas horas escutámos, refletimos, partilhamos,  tantas formas diferentes de falar da vida, dos afetos e das emoções . Qual será o significado de estarmos ali a escrever e a ler ? Para que serve isto? Respostas simples e seguras: "dizer o que sinto ou penso, expressar a minha raiva, organizar a minha história". É impressionante o que acontece quando as pessoas ganham consciência de si:
- Você gosta mesmo disto ? - perguntam-me a certa altura ... acho que se referia aos livros.
- Sim, mas aquilo que eu gosto mais , são mesmo as pessoas!
Sorrimos todos e acho nos entendemos. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Dia segundo - Informação

No sentido de assegurar que em 2014 , este blogue continuará a ser um espaço onde se discutem ideias e ideais , informamos que a partir de hoje não serão publicados comentários a post, cujos conteúdos expressem ofensas a terceiros ou sejam feitos a coberto do anonimato.

Aos lesados por esta medida tardia, envio as minhas desculpas.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Dia primeiro


Estou surpreendida com os ecos que o vento me devolve.
Escutar o vento é quase sempre bom mas...  também é preciso dizer que por vezes, à  força de ser repetidos, os ecos atropelam-se, deturpam as intenções , criam enganos ... e isto a ver pelo tom de alguns comentários que circulam neste fantástico abismo que é a internet - lugar onde nos podemos perder entre ecos - ainda a propósito da Carta a Bartolomeu.

Desta vez os ecos dizem-me que andamos a perder o centro , que se abusa do conforto do anonimato, se cai  na fulanização das questões. Dizem-me os ecos que corremos o risco de nos perdemos nas acusações e apreciações sobre quem fez , faz , ou fará maior estrago, incapazes de distinguir o acessório do central .. e o central é discutir hoje, passados tantos anos de ação do poder local democrático e de leitura pública , como recuperar a centralidade das Bibliotecas na vida dos cidadãos, não por que elas sejam o único acesso à elevação  do sujeito, mas porque elas são um poderoso instrumento na sustentabilidade de um projeto de desenvolvimento para um concelho. O central é discutir que políticas de leitura podem ser postas ao serviço do trabalho educativo, da formação de adultos, do trabalho social , de combate sem trégua às iliteracias e à exclusão, das políticas de valorização da identidade e da memória de uma comunidade, de acesso às linguagens que nos permitem que nos expressemos como sujeitos. E importa que essa discussão possa envolver os recursos humanos que possuímos, o melhor que soubermos e pudermos.

Por aqui me fico neste dia primeiro! Estou a ficar sem tempo pois ainda tenho de preparar  a oficina de escrita no estabelecimento prisional , as sessões com as minhas Marias : as da Cabeça Gorda - onde vamos começar com o "A Minha boca parece um deserto" - e as de Santa Vitória, onde vamos começar a ler a Marabília e estou deserta para lhes falar do espanto daquele lugar, Azinheira Velha, onde uma mulher um dia foi engolida pela terra. Tenho de preparar o encontro dos meus meninos com o livro "Avós" e começo a ficar sem tempo.

Abraços grandes para todos e felicidades para este ano acabadinho de estrear!