Da criadora apenas conheço meia dúzia de vídeos disponíveis na internet e a história sobre o seu nome : Chama-se Toc Toc porque passa a vida a bater à porta dos moradores da ilha dos sonhos- rodeada de magia, fantasia – inquietando-os com as suas perguntas.
Sei também que é muito mediática cobrindo muitos tipos de públicos : crianças e adultos.
Salas cheias, estádios, a Norte a Sul e nas Ilhas como os vídeos e as fotografias, podem comprovar: uma moldura humana impressionante. Uma massa.
Sei também que tem um marketing poderoso e curioso. No blog da artista, onde o clube de fãs deixa milhares de mensagens , anuncia-se que por " 19,99€ pode comprar um Pack completo Regresso às Aulas Xana Toc Toc e receber como oferta uma Bandolete ou Ganchos Xana Toc Toc. Esta oferta é limitada ao stock existentes." Para bolsas mais curtas, o site propõe, por 4,80€ " um Livro de Atividades Xana Toc Toc 5 com o Jogo dos Óculos Mágicos e a Verdinha Toc Toc. (Histórias + Atividades + Autocolantes Coleção composta por seis entregas, distribuídas aos sábados de 1 de Junho a 6 de Julho de 2013, por apenas 3, 50 € na compra do DN ou JN. Preço total da coleção: 21€ + preço do jornal).
É um espectáculo de música. Cada bilhete custa, 12€.
Suponho que à autarquia tenha custado apenas os recursos técnicos e humanos, refeições e um ou outro alojamento, já que está integrado no programa Rede Arte Sul com Co – Finaceamento INALENTEJO/QREN/EU.
Mas isso não interessa por agora!
Apesar de não me rever, gosto da ideia do TOC TOC perguntador. Parece-me que o marketing que o suporta deixa os nossos meninos e pais reféns da sua pobre educação para o consumo, que esta opção não fica bem tão próximo de uma campanha eleitoral. Mas também isso não me interessa: em tempo de guerra não se limpam armas.
O meu TOC TOC perguntador prende-se
apenas com o facto deste espectáculo, ter sido proposto para financiamento por
um conjunto de autarquias – o que é notável! – que o escolheram coincidindo no
tipo de programação cultural e abordagem estética que oferecem para a sua comunidade– o que é surpreendente! - em
detrimento de outro tipo de espectáculo ou projecto continuado que seja
realmente transformadores – o que é dramático !
ToC. ToC. Porque ? É
preciso começarmos a perguntar como a XANA ?
Porquê que as autarquias que integram
esta rede, podendo explorar, propor outras possibilidades de cooperação, outro
tipo de projectos que deixem marcas verdadeiramente transformadoras na educação
das nossas crianças e famílias, raramente o fazem?
Toc Toc . Porquê não aproveitar a
oportunidade de uma Arte em Rede para trabalhar com os criadores locais ou
outros convidados, propondo um trabalho sério: residências artísticas,
projectos continuados - desenvolvidos em contexto escolar , ou extra escolar que
resultem em performances espectáculos, que incluam actores, músicos, e crianças?
Toc Toc . Porquê não candidatar
outros projectos? : que possam desenvolver-se nas comunidades rurais mais pequenas; envolvendo
crianças, jovens ou idosos, num trabalho inteligente que ajude a reconstruir
relações inter geracionais e identidades, quebrar o isolamento e/ou as fraturas
sociais?
Toc Toc – Porquê não aproveitar a
oportunidade do trabalho em rede e respectivo financiamento para a construir projectos
de formação de públicos, de desenvolvimento comunitário, que potenciem a voz
das comunidades?
Toc Toc . Porquê que mais do que
gerir as oportunidades que um financiamento comunitário nos traz, não se criam
oportunidades para potenciar a relação dos cidadãos com outro tipo de experiências estéticas, realmente
transformadoras? Porque estas opções e não outras?
Não sei se alguma vez saberemos
em Beja, o impacto social de projectos de outra natureza: construídos com as
comunidades, partindo do que conhecem, dando-lhes a conhecer, oferecendo-lhes
instrumentos para expressar. Não sei se é possível sonhar uma outra cultura para os territórios?
Ainda acredito que sim, por isso não me demito de fazer TOC TOC e perguntar!
Pela coragem deste "Toc Toc", espero que nunca desista de perguntar!É de gente como esta GRANDE MULHER( Cristina) que o nosso país precisa.
ResponderEliminarA mulher já foi maior! ... Um abraço.
ResponderEliminarAinda bem que vieste, Furacão!
ResponderEliminarAtrevo-me a responder aos porquês: porque dá muito trabalho trabalhar com as comunidades, porque o retorno de um trabalho continuado é demorado e pouco glamouroso, porque pôr todas as autarquias a querer espectáculos mais pequenos de grupos locais dá uma trabalhaeira daquelas e porque os espectáculos grandes e vistosos enchem o olho e (pensam eles) trazem-lhes boa fama. É pena que as autarquias se deixem seduzir desta forma pelo apelo do consumo e é pena que não haja um juízo mais crítico e exigente da parte de quem nos governa.
ResponderEliminarParabéns pela reflexão, na qual revejo as minhas perguntas, e pelo regresso ao blog.
Um abraço,
Ana Oliveira